Dizer a verdade e suas consequências

Falar a verdade foi, por muito tempo, um escudo e também uma forma de descarga de emoções inflamadas que havia dentro de mim.
Com um mar de sentimentos negados e reprimidos, não me permitia de forma alguma ser frágil, me mostrar honestamente e criei, assim como tantas pessoas, uma máscara de poder que trazia comigo uma coragem exacerbada pra dizer a qualquer momento e a qualquer pessoa a minha opinião. No auge da minha superioridade, me tornava uma juíza. Fazia de tudo para que as pessoas não percebessem quando algo me afetou, o que eu estava sentindo. Ser decifrada era meu maior temor.
E mesmo gastando tanta energia com isso, era ineficaz. Pois essa solução sempre fazia com que eu afugentasse as pessoas. Em seguida, eu me sentia rejeitada e incompreendida.
Tem sido um longo período quebrar esse condicionamento, essa forma automática de agir.
Por um lado, falar a verdade é tão lindo pra mim. Eu amo a verdade! Tenho um dom de senti-la, reconhecê-la. É fato que ela traz uma segurança inquestionável,  pois a verdade simplesmente é.
Vejo tantas pessoas que possuem tanto medo dela. Medo de serem verdadeiras, medo de dizerem o que sentem, medo de serem o que são, medo de se mostrarem. E  nesse medo, em vez de escolherem um caminho às vezes árduo, o da coragem de dizer a verdade, escolhem se ocultar,  se calar, muitas vezes deixando o outro sem resposta, ignorando, não se posicionando. E isso também machuca muito.
Aprendi que dizer a verdade é um talento que tenho. Mas também aprendi e continuo aprendendo que não é só porque é verdade que é preciso dizer. A verdade tem hora e tem lugar. Tenho escolhido dar a opção do outro escolher ouvir, antes de sair vomitando.
Se a verdade será daquelas duras, espero um pouco,  avalio minha necessidade de dizer,  averiguo qual a intenção por trás. Se depois de um tempo, às vezes dias ou meses, a verdade se mostra como uma peça necessária, digo-a. Se ela vai doer no outro, tento dizer da forma mais amorosa possível, mais auto responsável possível, mais respeitosa possível.

Às vezes, escolho dizê-la não tão madura ainda, sem estar plenamente no amor, pois é a única forma que consigo e porque entendo que é preciso, mas faço de forma consciente, enxergando e assumindo os riscos inerentes.
Muitas vezes uso o artifício de dizer para uma outra pessoa antes, no sentido de desabafar,  organizar as ideias e tirar um pouco a carga emocional que acompanha o que precisa ser dito. 
Pra mim, a mentira dói muito mais do que a verdade desagradável. Ambas doem, mas a verdade me traz um sentimento de dignidade, enquanto a mentira me traz um sentimento de desrespeito. 
Há um tempo tenho escolhido falar a verdade também em situações do dia a dia quando contamos uma mentirinha somente pra ser confortável pra nós. Tento dar essa dignidade pras pessoas e também aceito a consequência disso. Por exemplo, digamos que estou passando por uma situação emocional muito forte e não tenho condições nem de trabalhar. Escolho dizer a verdade pro chefe. Digamos que uma amiga me convida pra algum evento e eu não quero ir. Em vez de inventar uma desculpa, escolho dizer a verdade com jeitinho.
Queria compartilhar hoje esse olhar, para trazer uma reflexão. Para que vejam comigo o quanto não responder uma mensagem pode machucar o outro, o quanto dar uma doce mentira fere tb, o quanto nos acovardamos constantemente quando a verdade é chamada a ser dita. 
Diz pra mim: você costuma falar a verdade?

danielle.carneiro@gmail.com