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É preciso honrar quem veio antes

Nessa madrugada eu conversava com uma amiga sobre o parto de uma conhecida em comum, que havia sido domiciliar, como o meu. ⁣


Ela relembrou seus 2 partos, que foram violentos e ela se sentiu só, machucada e desamparada.⁣


Nesse momento brotou em mim um profundo sentimento de gratidão. ⁣


Sem a experiência dela e de muitas outras mulheres que viveram isso, não seria possível ter o parto que tive. ⁣


Nos seus partos, não havia consciência de que esse tratamento que as parturientes recebiam estava completamente errado, distorcido, violento. ⁣


Foi graças à experiência, à dor e ao grito das que vieram antes que foi possível construir um caminho de mais amor, um atendimento mais humano, um olhar mais delicado pra mãe, pro pai e pro bebê que nasce. ⁣


Os pais, que por muito tempo foram excluídos, tiveram seus lugares garantidos nesse momento familiar tão intenso e sagrado. ⁣


O bebê, que era visto como um produto sem consciência, passou a ser visto como um indivíduo e o respeito desse tratamento foi questionado e tem sido revisto e reconstruído. ⁣


A mãe, que antes era uma mercadoria, tem tido um olhar mais delicado, mais empatia, mais compreensão, mais reverência para atravessar esse portal tão profundo.⁣


Sem as que vieram antes, nada disso seria possível. ⁣


Portanto, meu parto passa a ser uma ressignificação da história de todas que sofreram violência obstétrica e que não tiveram escolha. Não tem como voltar atrás, mas espero que possam tomar minha história como a de vocês.⁣


Sou fruto do seu grito que dizia: “Que nenhuma mulher nunca mais passe pelo que passei.”⁣


Eu honro o seu caminho, a sua história e agradeço com o mais profundo do meu coração. ⁣


E assim devemos honrar: pai, mãe, avós, negros, índios, portugueses, pois somos a continuação da história deles. E sem eles, nada do que temos hoje de melhor seria possível.

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