Danielle Carneiro

Minha filha caiu e meu marido disse: “Eu não vou te ajudar a levantar.”

Essa foi a frase que minha cliente trouxe pra me contar como doía observar a paternidade do seu marido. Sua reação foi brigar com o marido e não tinha sido a primeira vez: ela sempre chamava a atenção dele e ele seguia tendo a mesma atitude.

Nesse momento, se entrarmos no mérito de analisar se a atitude do pai estava certa ou não, não conseguiremos dissolver esse conflito. Na verdade, é bem nítido que ele estava negando amparo e acolhimento e poderia sim ter uma atitude mais amorosa com a filha. Mas quando olhamos pelo lado emocional/espiritual, precisamos enxergar outras variáveis e perspectivas.

O primeiro ponto é que, todo acontecimento é criado por todas as partes afetadas. O que isso quer dizer? Que se eu observo uma briga entre duas pessoas e sinto qualquer emoção desconfortável (leia-se dor ou reação emocional), eu também faço parte daquela criação.

Mas como, Dani?

São conexões invisíveis. As dores que estão guardadas dentro de nós, por não terem sido resolvidas, emitem um campo eletromagnético que interage com o campo eletromagnético das outras pessoas. Assim, mesmo que eu não esteja fazendo ou falando nada, mas só pelo fato de estar SENTINDO, isso contribui com o campo daquele acontecimento e, por isso, eu posso fazer algo que contribua com a solução. 

Precisamos ressignificar que tipo de AÇÃO tomar. Talvez você já pense que precisa falar com alguém, interromper algo ou qualquer ação externa.

Mas eu estou me referindo a uma ação interna. Se eu trabalho minha dor, logo, vou neutralizar meu campo eletromagnético e, com isso, vou enfraquecer aquela criação negativa. Esse é o trabalho que devemos fazer e que pouquíssimas pessoas sabem. 

Ilustrei essa dinâmica para você compreender melhor:

Na prática, costumamos apenas convencer alguém a mudar, mas isso, além de ser muito esforçoso, surte pouco efeito, pois essas interações invisíveis não acontecem por acaso. Elas têm uma razão de acontecer.

Tudo é muito perfeito na vida!

Para entender isso, vamos falar de dor.

Em essência, todos somos criações divinas e somos feitos de puro amor. (imagem e semelhança de Deus).  No entanto, quando somos machucados, o que fazemos? Na maioria das vezes, nos fechamos, nos vingamos, nos ressentimos, odiamos. Isso não é amor, certo? Isso quer dizer que existe algo que o Pathwork chama de “amassadura de alma”, ou seja, uma parte de nossa consciência que se distorceu e, por isso, precisa voltar ao estado original. É isso que são as dores: sintomas de amassaduras de alma que temos, um verdadeiro alerta de que, naquele ponto onde fomos machucados, não sabemos amar e, por isso, precisamos de um processo de purificação (ou remoção das distorções).

(Quando alcançamos consciência disso na nossa caminhada de autoconhecimento, avançamos um nível no compromisso de purificação pessoal, pois entendemos que temos que afetamos uns aos outros de diferentes formas e que precisamos fazer a nossa parte para viver num mundo melhor)

Essa visão do processo de dor me trouxe em minha caminhada muito alívio ao passar pelas experiências da vida, como também me amadureceu. Deixei de ser vítima do mundo e passei a ser condutora de minha caminhada evolutiva. Além disso, passei a enxergar “uma luz no fim do túnel”.

Como é bom encontrar um propósito por trás da dor! 

O papo com minha cliente não parou por aí. Como terapeuta, estou ali para ajudá-la a enxergar pontos que não estão claros para ela.

Contei para ela que, toda vez que fiz o processo de cura da dor emocional – por cura eu entendo a dissolução completa dos sintomas, onde caso aquilo volte a acontecer em minha vida, eu não sinto exatamente nada e se você nunca passou por isso, acredite: é real! – ao final dessa cura eu alcancei um aprendizado e pude constatar que eu realmente precisava daquilo. Aprendi algo que não sabia ou conquistei habilidade que não tinha. E mais do que isso: percebi que aquilo que eu ganhava era sempre essencial para ser quem eu sou e, por isso, ser genuinamente feliz.

Como bem sabemos, as maiores dores que temos vêm de pai e mãe, afinal de contas, são eles as pessoas mais importantes para nós no período onde as dores são registradas na psique: dos 0 aos 7 anos.

Logo, perceber esse processo de meus pais me “causam” dor > eu curo a minha dor > ganho um aprendizado > sou quem preciso ser > sou feliz me fez entender algo que ouvi na minha formação de constelação familiar: meu pai é o pai certo para mim, minha mãe é a mãe certa para mim. Olhando de uma forma mais ampla, existe todo um plano de salvação/evolução por trás. Você vê?

Assim, eu fui chegando com a minha cliente à constatação de que o marido dela é o pai certo para a filha dela, que ela precisa daquela dor e daquele aprendizado. Mas calma, eu sei que isso é duro de aceitar e de pensar que iremos ficar de braços cruzados vendo a dor acontecer. Não é isso.

Eu posso afirmar sem sombra de dúvidas que o conhecimento mais valioso que tenho hoje em minha vida é de saber como passar pelo processo da dor emocional sem me tornar prisioneira. Com isso, mostrei para ela que, assim como o pai é o pai certo pra filha dela, ela também é a mãe certa para a filha dela e ela pode oferecer acolhimento à filha, ajudando-a a passar por aquela dor.

Para qualquer dor existe um remédio: ACOLHIMENTO. 

Dei um exemplo para ela:

Se sua amiga está triste com alguma atitude do namorado dela, o que você vai fazer? Vai reclamar com o namorado da amiga pedindo que ele mude ou vai acolhê-la, fazendo ela se sentir ouvida, validada, compreendida e acolhida? É claro que a segunda opção é mais eficiente, certo? Reclamar com o namorado, inclusive, não mudaria em nada o que a amiga dela sente e poderia até piorar. 

No caso da filha, é a mesma coisa. Reclamar com o pai não tira a dor que a criança está sentindo. Acolhê-la sim, traz alívio, ela aprende a se acolher também e consegue seguir adiante. Inclusive, um outro ponto cego que minha cliente não estava vendo é que, quando ela está ocupada em reclamar com o marido, a dor da sua filha continua lá e, com isso, ela também está desamparando a filha, que é justamente a queixa que ela tem do marido.

Olha só como é rica toda essa situação, não acha? No fim, a gente ainda pode tirar uma constatação:

A dor que ela sentiu ao ver o marido tratando a filha foi de desamparo, que é uma dor não resolvida dentro dela. Se ela tem a dor de desamparo, é porque ela precisa aprender a amparar. Ela acreditava que sabia amparar, no entanto, não conseguia perceber o ponto cego de desamparo e esse era o grande aprendizado.

Com tudo isso explicado, fui para a parte prática: ajudei minha cliente a entrar em contato com a sua própria dor de desamparo e a curá-la. Foi um lindo processo.

E você, o que achou dessa história? Como isso te impactou ou que reflexões te trouxe?

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