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MULHERES: ESTAMOS PRONTAS PARA CONVIVER COM HOMENS MADUROS?

Desde pequenas, sonhamos com o príncipe encantado. Muitas de nós vivemos essas fases em que misturamos a projeção de sermos salvas pelo masculino, sem que nos déssemos conta das pitadas de “papai” que vinham a reboque desse desejo: “Sim, príncipe, quero ser salva!”. Então, crescemos, veio a modernidade, exercemos nossa independência, sobrevivemos bem no mundo… A questão é que, nesse novo momento, ao mesmo tempo que queremos (ou exigimos) a pitada de “papai”, por outro lado, ela já não é tão bem vinda assim… Enquanto isso, na porção homem, ali, no meio desse pacote, acontece algo novo: ele fica um pouco perdido, se perguntando: “Qual meu papel? Salvo ou não salvo? Pra que mesmo estou aqui?”. Nesse contexto, algumas de nós abrimos mão do homem e ficamos sozinhas.
Outras permanecemos com ele, mas seguimos um pouco confusas sobre esse mix de papeis. Ora tratando-o como homem, ora exigindo-o como um pai.

Então, avançamos mais um pouco… Tomamos consciência de que salvar a gente talvez seja uma conta pesada demais pra repassar a alguém… Fomos, aos poucos, nos autorresponsabilizando… Ainda assim, ao mesmo tempo em que isso acontece, um estranho ressentimento, uma sensação de abandono pelo “papai” segue à espreita.

Até que vem uma nova rodada na espiral e chega a pergunta: “Será que realmente preciso ser salva por alguém, que não eu mesma?”. O que eu posso esperar de um homem, além de um salvador?
Além de um mantenedor?
Além de um provedor?
Além de um protetor?

Posso simplesmente somar com ele?
Posso simplesmente compartilhar a vida com ele?
Posso simplesmente ter prazer, amar e conviver com ele?
Nos perdemos tanto entre o que era e o que será, que leva algum tempo para nos localizarmos no que já é.

Idealizamos tanto esse homem digno, que deixamos de ver, ouvir e reconhecer um deles – bem humano, imperfeito e em construção – quando este se apresenta bem diante de nossos narizes. Esteja ele ao nosso lado há décadas, esteja ele na mesa de um bar… Afinal, também sou bem humana, imperfeita e estou em construção. Ainda bem!

Então, vem uma nova volta na espiral.
Desconcertadas, somos pegas de surpresa pelas exigências da “filha abandonada” que, volta e meia, surge em nós no contrapé, ao menor descuido de auto-vigilância.
Constrangidas, desistimos de conviver, nos isolamos na solidão, ou na mágoa de um dia termos sido feridas e desprezadas…
Sabe em que dia teremos um homem maduro ao nosso lado?
No dia em que escolhermos agir como mulheres maduras.
No dia que largarmos mão de exigi-los como um pai.
No dia em que pararmos de tratá-los como um filho.
No dia em que admitirmos a possibilidade de ele se interessar por alguém, assumir isso e sair da relação, como adultos maduros.
Sem torná-lo o safado, sem sentirmo-nos abandonadas pelo “papai”. Afinal, uma relação de casal fala de troca, de um amor que é, sim, condicional.
Incondicional, só amor de papai mesmo.
No dia em que assumirmos a possibilidade de nos interessarmos por alguém, assumirmos isso e sairmos da relação, como adultas maduras também.
Sem nos tornarmos a puta, sem sentirmo-nos a “mamãe” que abandonou.
Afinal, uma relação de casal fala de troca, de um amor que é, sim, condicional.
Incondicional, só amor de mamãe mesmo.
Assim, maduros e encarregados de si mesmos, ambos arcam com as consequências de permanecer ou sair da relação como adultos.
E atenção:
Autorresponsabilidade não implica em indiferença.
Liberdade não significa, simplesmente, ficar sozinho.
Muitas vezes usamos a liberdade para disfarçar o medo de não colocar os dois pés pra dentro de uma relação.
Liberdade pode ser, também, a escolha de pertencer a uma relação.
Seja para entrar e sair inteiros.
Seja para entrar e permanecer inteiros.
Porque queremos, porque é bom, porque assim desejamos.
É assim que dois adultos se relacionam.
Desbravam a alegria de ser livres para dar e receber prazer…
E de poder, vez por outra, frustrar o companheiro e também ser frustrado.
De poder, sim, apoiar um ao outro.
Cuidar um do outro.
Como companheiros.
E não no cumprimento de um amor que exige, um ao outro, como seus pais.
Sabe em que dia teremos voz diante de um homem?
No dia em que dermos ouvidos a ele.

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