Perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu na minha vida.
Nas últimas vezes, como eu já estava desperta para a visão da consciência, pude encarar esse fato com olhos de quem procura se curar.
Essa experiência me levou a diversos lugares dentro de mim.
O principal deles foi a dor do desamparo.
Entrei numa queda sem fim do abismo dessa dor.
Enquanto meu parceiro me traía, uma vez após a outra, minha criança interior lutava para que ele cuidasse de mim. Sem sucesso.
Quando alcancei o fundo do poço, pude enxergar o que antes não era possível: o meu autodesamparo.
Ali, naquele lugar, nada mais havia o que fazer. Não havia ninguém senão eu mesma.
E só tinha uma coisa a fazer: juntar meus cacos, levantar e seguir a vida.
Ainda destroçada, sem vigor, pálida e sem brilho, segui.
As pessoas me olhavam com pena.
Me diziam que viam nos meus olhos uma tristeza profunda. Era verdade.
Dia após dia, minha força começou a brotar.
Um sorriso aqui, outro acolá.
Aprendi, aos poucos, a me amparar.
Nada melhor do que deixar de enxergar os outros para percebermos que a única pessoa que pode fazer algo por nós somos nós mesmos.